Resolvi tirar férias. Achei que seria bom ficar um mês afastado do escritório, e de todo esse meio que não nos permite sossegar a cabeça. Decidi ir para a casa de praia de meus avós, com direito a pãozinho quente todos os dias de manhã, água de coco na praia e a me empanturrar do maravilhoso sorvete que existe naquela cidadezinha.

Logo em meu primeiro dia, decidi ir à sorveteria e tomara AQUELA sobremesa, com tudo o que eu tinha direito. Encontrei a dona da sorveteria, que conheço há anos, irritada:
 

- Não é assim que se coloca as colheres no balcão! Eita gente incompetente.
 

- O que houve? – perguntei, curioso.
 

- Esses jovens de hoje em dia não sabem nada de nada! – bufou a senhora, em brasas.
 

De trás do balcão surgiu um mocinho, novo, de aproximadamente 20 anos, que tentava ao máximo atender ao que ela mandava, mas sem saber como. Tentando ajudar, dei uma sugestão a ela:

- Porque não faz um treinamento com ele? Quem sabe desta forma ele erre mesmo?
 

Com uma careta, ela rosnou dizendo que não tinha tempo a perder, afinal ela estava exigindo dele apenas o mínimo e que ele era um tapado.
 

- Vou demitir esse moleque e contratar outro. É o terceiro este mês que não consegue fazer as coisas como peço! No meu tempo, as pessoas eram mais espertas.
 

A intolerância daquela mulher, dona do estabelecimento, refletia não apenas na demissão do menino. Enquanto não havia alguém treinado corretamente para ajudá-la no atendimento, as filas ficavam enormes, e ninguém mais tinha paciência para esperar e tomar aquele sorvete, por mais maravilhoso que fosse.
 

É obvio que palavras difíceis como Líder Coach, Training on Job, Avaliação de Eficácia, não eram as que eu esperava escutar naquela cidadezinha, mas o que está por trás delas poderia estar sendo praticado com aquele garoto: orientações básicas de como atender ao cliente, cuidados na higiene, ordenação de tarefas prioritárias, estimulo de suas melhores qualidades...
 

De volta para a cidade pensei: “Ah, aqui as coisas são diferentes: as empresas investem em seu pessoal, percebem a importância do seu desenvolvimento”. Mas em meu primeiro dia de trabalho, escuto o Gerente Geral gritando, pelo corredor:

- Vou demitir este estagiário de m...!
 

Perguntei-lhe o motivo da raiva.
 

- Ora, já é o segundo estagiário que contrato este mês e que me erra na emissão das notas fiscais – esbravejou o Gerente.
 

- O senhor vai mandar embora novamente o estagiário? Porque não treiná-lo, investir em seu talento? Ele mostra ter futuro e se montarmos um plano de carreira para ele...
 

E antes que eu pudesse concluir minha idéia, o gerente me deu as costas e saiu andando pelo corredor, gritando à responsável pelo RH que cuidasse da demissão do estagiário. Impossível não ver semelhanças, naquele momento, com a sorveteria do litoral.
 

O sorvete é realmente gostoso... pena que as pessoas que cuidam destes sorvetes nem sempre têm noção da importância de investirem para que eles se tornem excepcionais. Todos sairiam ganhando: os sorvetes, os clientes e as sorveterias...